Tenho uma teoria que pode salvar o SNS da futura
bancarrota e melhorar seriamente a qualidade do mesmo, passo a explicar.
Em meu ver o SNS deveria funcionar como aquelas
oficinas auto em que os clientes chegam e sabem exatamente o que querem, por
exemplo, eu chego á oficina Autoqualquercoisa (chamemos-lhe assim) com o meu
fiat uno 1.0 de 1988 a deitar fumo amarelo e com um barulhinho estranho no
motor e digo :
" Bom dia, era para mudar o óleo e substituir as velas que
ali a máquina esta a fazer um barulhinho
esquisito e deitar fumo amarelo"
E o empregado ou patrão responderá:
" Sim
senhor, pode vir buscar a viatura ás 15.00 de amanhã".
E pronto é isto, não há
cá, se calhar é preciso mais isto ou mais aquilo ou então pode ser não sei do
quê, não, é isto e pronto no dia seguinte é só pagar e levantar a viatura, o
que é que isto tem a ver com o SNS ? Perguntam vocês, caros cibernautobloggers,
e eu vou de imediato responder, não soubesse eu tudo.
Fechem os olhos e tentem imaginar o seguinte,
não, não fechem os olhos senão não conseguem ler o que é que eu quero que vocês
imaginem, imaginem só o seguinte: um sujeito qualquer, (vamos-lhe chamar Sr.
Albino Albano) dá-lhe uma dor no peito e decide dirigir-se ao médico de
família, então o Sr. Albino Albano entra no consultório e acontece o seguinte:
SR. Albino Albano – Bom dia Sr. Doutor.
Sr. Doutor – Bom dia, então Sr. Albino o que o
trás por cá?
SR. Albino Albano – Bom, hoje deu-me aqui uma dor
no peito, e então decidi vir cá para marcarmos um transplante, que eu acho que
aqui a maquina já deu o que tinha a dar.
Sr. Doutor – Sim senhor Sr. Albino, deseja mais
alguma coisa?
(entretanto o Sr. Albino Albano começa a tossir
fortemente e a cuspir sangue)
SR. Albino Albano – Olhe, já agora receite-me aí
umas pastilhas, que esta tosse não me larga.
Sr. Doutor – Você manda Sr. Albino, vamos então
marcar o transplante para amanha ás 15.00, as pastilhas é que pode já aviá-las
hoje, pode tomar duas de 8 em 8 horas.
SR. Albino Albano – O QUÊ? MAS É QUE NEM PENSE,
ESTÁ–ME A ENGROPIR OU QUÊ? O QUE FALTAM PRÁI SÃO CONSULTÓRIOS !!!
Sr. Doutor – Pronto Sr. Albino, acalme-se, tem
razão, pode chupar as pastilhas como bem lhe apetecer.
SR. Albino Albano –Ah bom, assim está melhor,
então ate amanhã.
Conseguiram imaginar isto tudo? Ótimo, onde é que
eu quero chegar com esta lenga-lenga? Quantas vezes não foram ao médico e lhes
pareceu que ele vos estava a enganar?
Ou aquele primo meio coxo que foi ao
médico por causa de uma dor num testículo e saiu de lá com uns óculos de ver ao
perto?
Ah pois éééééé. Quem é que desconta para o SNS?
Somos nós, por isso nós
é que sabemos o que é melhor para nós, nós é que sabemos onde nos dói, no caso
do Sr. Albino Albano afinal não era preciso nenhum transplante, acho que aquilo
era só gases, mas pelo sim pelo não o homem ficou com um coração novo.
Claro
que este novo modelo também tinha de ter regras, como um plafond anual para cada
utente gastar como bem lhe apetecesse, para evitar que se fizessem diagnósticos
e tratamentos em excesso.
Agora vocês perguntam, e se o utente fosse ao médico
e lhe pedisse para fazer uma lipoaspiração porque se andava a sentir inchado e
ele viesse a falecer porque na realidade ele tinha os intestinos engatilhados
um no outro e era isso que lhe estava a provocar a sensação de inchaço?
E se o
utente estivesse inconsciente e desse entrada no hospital? Eu tenho a resposta.
Aantes do utente fazer qualquer tratamento, teria de assinar um termo de
responsabilidade que livraria o medico de toda e qualquer responsabilidade por
tratamentos inadequados.
No caso de uma urgência hospitalar com perca de
sentidos, teria de ser o familiar mais chegado a tomar uma decisão, por
exemplo, o Sr. Anacleto Antunes caia de um andaime e fazia uma contusão com
traumatismo craniano a precisar de uma sutura e perdia os sentidos, aquando da
chegada ao hospital, era contactado o familiar mais próximo, (e quando digo
mais próximo, quero dizer o que estiver mais perto do hospital, porque o caso
pode ser de vida ou de morte) e esse familiar é que olha para o utente e decide
o que vai ser feito, neste caso o primo do Sr. Anacleto Antunes, olha para o
Sr. Anacleto todo ensanguentado diz para o médico:
“Bem Sr. Doutor, o meu
primo sempre se queixou com dores nas costas, mas andava sempre a evitar vir ao
médico, por isso, faça-lhe uma massagenzita com um anti-inflamatório e uns
benurons de 8 em 8 horas, que isso deve passar.”
Ao que o médico poderia
responder:
“Mas você esta louco ou quê? O seu primo precisa é de ser suturado,
pois sofreu um traumatismo craniano e pode entrar em estado de choque a
qualquer momento.”
Ao que o primo do Sr. Anacleto Antunes poderia replicar com
um:
“Ó meu amigo, mas quem é que desconta para o SNS? É você ou é o meu primo?
Faça lá mas é o que eu lhe disse senão vamos a outro hospital e ainda fazemos
queixa de si.”
Isto sim era serviço público, o cliente era atendido conforme
sua vontade e ficava sempre satisfeito, e mesmo que não ficasse não podia
reclamar porque tinha assinado o termo de responsabilidade que livrava o médico
de toda e qualquer responsabilidade.
Feita uma análise em jeito de síntese, o estado
poderia arrecadar milhões de euros (arrecadar não, que eles não são de
arrecadar nada, teriam mais para esbanjar em coisa inúteis) em indemnizações
por diagnósticos errados e tratamentos desnecessários e ineficazes, já para não
mencionar que iria criar inúmeros postos de trabalho, nomeadamente nas agências
funerárias.
PS – Ando aqui com uma dor, acho que isto deve
ser fibromialgia. Ah se ao menos este sistema já estivesse a funcionar. Vamos
ter de esperar, já enviei este memorando por e-mail para o ministro da saúde,
mas a única resposta que obtive foi um vídeo com umas gargalhadas, não sei o
que isto quererá dizer.